segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
HISTÓRIAS POSSÍVEIS - Edição de Natal
domingo, 20 de dezembro de 2009
POESIA VIVA DA CIDADE
OLINDA, de Gerusa Leal
Trago na boca da memória o gosto
ácido-adocidado das caipirinhas
sorvida na juventude dos teus carnavais.
Os ventos das lembranças despenteiam-me
os cabelos quando do alto da alma
olho para Recife ouvindo os sinos da Sé.
Tuas ladeiras ensinaram-me o gingado
que levo por onde eu for. assim como
o aprendizado de esperar sempre a surpresa
em cada esquina que me leva
aos quatro cantos do mundo.
A tua lua me traz o fogo do beijo
trocado com quem não lembro
naquela noitinha fresca
de amores adolescentes.
Te vejo, Olinda, oscilando com o vento
nas palhas dos teus coqueiros.
E te respiro no cheiro da maresia
que me entranha as narinas
sempre que volto a me abrigar nestes teus braços
acolhedores e sorrio o teu sorriso
de gente simples que te vive inconsciente
da vida tanta com que tu nos presenteias
nos teus pensares de cidade secular.
E enquanto tu nos ninas com as badaladas
dos sinos das tuas igrejas na hora da ave-maria,
sonho meus sonhos de menina pés descalços
a pular as tantas ondas sempre mornas do teu mar.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Lua Negra
Poema do livro Versilêncios, no excelente blog de César dos Anjos.
http://sistemapoetico.blogspot.com/2009/12/lua-negra.html
Poeta menor, senti-me agraciada por aparecer na impecável seleção do César. Para quem gosta de poesia de primeira, vale conferir o blog inteiro.
http://sistemapoetico.blogspot.com/
sábado, 28 de novembro de 2009
VOZES FEMININAS - Festival de Inverno de Garanhuns 2009
http://www.youtube.com/watch?v=DcXXwPqrE4U
terça-feira, 24 de novembro de 2009
HISTÓRIAS POSSÍVEIS - EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO
EDIÇÃO 54 – Superedição Comemorativa de 2 Anos
DOS COLABORADORES
DOS CONVIDADOS
DA ASSINANTE
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
2º PRÊMIO LITERATURA NO CELULAR - VENCEDORES
http://www.fliporto.net/2literatura_celular_vencedores.html
O meu foi classificado em 6º
"Amanhã já é setembro,
mas os ventos de agosto
sem mesura ou cerimônia
nem fúria nem desalento
ainda dançam e fustigam
as veredas do sem tempo
que se desenham no rosto."
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Bienal - Lançamento Contos de Oficina
No lançamento de Contos de Oficina 2009, na Bienal do Livro de Pernambuco, com Cleonice, Inah, Carrero e Ney. Foto cortesia de Heleno e Udinha.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
GERMINA
domingo, 25 de outubro de 2009
sábado, 24 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Bienal do Livro de Pernambuco - Sessão de autógrafos
Em sessão de autógrafos de Versilêncios na Plataforma de Lançamentos da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco 2009, com André Cervinskis, prefaciador do livro, e Silvana Menezes, poetisa e atriz que fez recital com poemas da autora no evento.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Bienal do Livro de Pernambuco - Homenagem a Terêza Tenório
sábado, 17 de outubro de 2009
Edição 53 de HISTÓRIAS POSSÍVEIS
As pessoas simplesmente fazem. Plantam tomates. Colhem abóboras. Pilotam tratores. Praticam abominações com animais de pequeno porte. Escritor não. Escritor trava. Escritor estanca. Escritor estrila. E aí, meu amigo, não há o que fazer, a não ser, talvez, usar o bloqueio a seu favor e escrever um conto.
[Edson Aran]
DOS COLABORADORES
Lúcia Bettencourt, Pornoproust
Nereu Afonso, Queria mesmo é que um raio caísse no final da história!
DO CONVIDADO
E DA ASSINANTE
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
HISTÓRIAS POSSÍVEIS - Edição 51
[Foto e texto: Jacob Aue Sobol. GREENLAND. Tiniteqilaaq. 2001. Greenlandic Sabine MAQE.]
Dos Colaboradores:
Gerusa Leal, Photoshop
Lúcia Bettencourt, Mamãe não pode saber
Marco Aurélio Cremasco, Dona Irê
Nereu Afonso, [comédia da angústia em frase única]
Wesley Peres, Carta De Um Romano Albino Ao Pai [pingos caindo nos seus devidos iiiis]
e+
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
De(mente)
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
Outono
a tarde ainda se faz dia
hesita em anoitecer
o vento cochila imóvel
cansado de tanto calor
a madressilva repousa
na jardineira do muro
pensando em nada
quieta
feito a rua a seus pés
a tarde se estremece
e volta a entardecer
outono de faz de conta
chuva que não se lembra
do compromisso marcado
no terraço ela sonha
com o verão que passou
o livro aberto no colo
alguma mão invisível
move de leve a roseira
tirando uma folha morta
ela sorri e levanta
lembrou-se do pai
por quê?
Porque hoje é dia dos pais.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
DIVERSOS AFINS - 35ª Leva

CICERONEANDO
Antes mesmo que pudéssemos estar aqui convivendo com nossos ecos a se dispersarem por todas as partes, sempre existiu o primeiro senhor de todas as horas – o silêncio. Alguns já o cantaram em prosa e verso, percebendo nele uma fonte complexa e misteriosa de saberes. Até pode parecer que necessitemos com urgência atirar nossa verborragia para todas as direções, evocando as atenções para o que pode soar além de nossas óbvias falas. Outros podem perceber a torrente de palavras como um modo de afugentar-se da solidão intensa e cortante das horas. No entanto, o desacelerar dos ímpetos é capaz de nos revelar que há vida abundante e esclarecedora no silêncio íntimo e pessoal de cada um de nós. A cada Leva que se anuncia, pulsa uma descoberta do mundo, tal como apregoava uma visceral Clarice Lispector. Como num jogo de coincidências inimagináveis, as pessoas que por aqui passam agora tecem os fios de uma cumplicidade inerente ao ser humano: o percurso pelos temas recorrentes da alma. Há o compartilhar de paisagens intimistas nas vozes poéticas de Mara Faturi, André de Freitas Sobrinho, Graça Pires,Miguel Ángel Muñoz, Rafael Nolli, Nestor Lampros e Alexandre Bonafim.Pelas escutas em torno das falas do artista plástico Sérgio Lucena, os propósitos da arte assumem um caráter do olhar sublime sobre a essência da qual somos realmente feitos.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Joana
Palavra que me assustei quando a garota bateu no vidro. A camiseta surrada torcida pela mão direita, com a esquerda faz sinal para eu abrir. Primeiro aceno que não, com a cabeça, depois abro só um pouco.
- É para quadrilha?
Vejo-a levantar a cabeça, abrir mais os olhos negros e balbuciar:
- É, sim, senhora.
Apanho uma moeda de um real na carteira e ponho na mão da menina. Pelo retrovisor, de costas, caminha devagar demais para quem devia aproveitar o sinal fechado abordando outros carros. Interessante como é ilusória a distância aparente do que se vê pelo retrovisor.
O sinal abre, ponho o carro em movimento. Continuo pensando na mocinha. Mais que pensando, vendo. Trajava short curto, que acentuava as pernas longas e jovens, camiseta e chinelos, os cabelos castanhos colados à cabeça por grampos, ou biliros, como os chamava minha avó.
Minha avó. O arraial era no final da rua em que morava, a poucos metros da casa de meus pais. Local interdito para nós fora da época em que começavam os ensaios até as festas juninas. Meus pais - meu pai pouco falava, minha mãe era a porta-voz oficial - diziam que a vizinhança do fim da rua era de gente que não devíamos freqüentar. Mas perto do São João conseguíamos convencê-los a deixar participarmos dos ensaios e preparativos para os festejos. Sob os olhos vigilantes de minha avó sentada na cadeira favorita na calçada, os dedos ágeis tecendo paninhos de crochê.
Parecia constrangida, não tinha a desenvoltura dos rapazes e moças que nos abordam nos sinais de trânsito, nessa época do ano, alguns vestindo por cima das camisetas, shorts, bermudas ou calças compridas, saias modelo matuto estilizado já meio surradas, e até esboçando passos de dança enquanto os outros fazem a coleta junto aos motoristas. Ainda estamos em abril e eu havia esquecido que hoje em dia passou semana santa já é São João.
Ela me deu a moeda. Não ia dar não. Eu vi. Não sei onde arrumei cara pra mandar ela abaixar o vidro. Nem precisei falar nada. Pra quadrilha. Nem tinha pensado nisso. Já tinha a fala preparada e ensaiada. Apostava que ia ser mais difícil.
Mais do que vendo, sentindo, ou pressentindo, enquanto se aproximava do carro. Já estava lá. Mas me pareceu que aumentou depois que eu pus a moeda em sua mão. Vou para casa levando, no banco do carona, o constrangimento da mocinha no corpo e num rosto que não trazia o sorriso despreocupado de jovens curtindo vésperas de festas.
- É pra quadrilha.
- Como é?
- De São João.
- Outro dia.
Diabo.
Curtia a festa mas gostava era dos ensaios, as paqueras, os namoricos, mesmo não conseguindo que Edu fosse meu par. O consolo é que na festa todo mundo dança com todo mundo. Invejava Laura. Mas ela engravidou, não pôde naquele ano e foi minha chance. Na hora da formação dos pares, o meu também não apareceu, de cama com resfriado. Daí para o namoro foi um pulo.
- A senhora podia colaborar?
- Quadrilha?
- É, de São João.
- Tenho não.
Meleca. Que é que eu faço?
- Moço, colabora?
- Tenho uma proposta melhor, sobe no carro.
Nojento.
Isso não vai dar certo. Tô perdida.
- Moça, colabora?
Mais um real. Beleza.
- Moço, uma ajuda.
- Com esse sorriso posso até ser o noivo.
- Na minha quadrilha já tem noivo, moço.
- Tá bom, toma aqui um trocado. Mas se o noivo largar a noiva, sempre passo por aqui.
- Moça, um trocado pra ajudar nas roupas.
- Tô precisando de faxineira.
Puta.
Vamo, vamo, Joana / findou-se o inferno / houve um bom inverno / há fartura no sertão. / Ai, Joana, traz pamonha, milho assado / vou matá de bucho inchado / quem num crê no meu sertão.
Parecia tão insegura, vai ver tinha ensaiado todo um discurso para me convencer a contribuir e eu frustrei antecipando a razão da abordagem. Posso até ter ofendido quando simplesmente pus a moeda na mão dela. Como eu posso ser desastrada às vezes. Não adianta agora ficar me martirizando, não tive intenção, ela supera.
- Como é que é, galera? Vamos somar o apurado.
- Levantei trinta paus. Deu mais uns trocados mas eu tava com sede, comprei uma coca.
- Aqui tem mais vinte e cinco.
- Quarenta e três.
- E tu, traste? Conseguisse ao menos cinco paus?
- Fala assim comigo não.
- Ih, Joana, vem com choradeira não, já te disse. Ou entra no esquema ou tudo acabado entre nós. Me dá logo esses trocados. Porra, que é que é isso? Deixa eu contar. Cinqüenta e dois paus e quarenta e cinco centavos. De que jeito arranjasse essa grana? Eu não vou devolver nada não tu tá sabendo. Aqui é bateu morreu. Vai, diz logo, esperta.
Laura fazia sucesso como os rapazes. Talvez por isso também estivesse incluída por minha mãe na categoria dos proscritos do fim da rua. Minha melhor amiga na época acabou sendo também uma moradora do fim da rua. Tereza. Conquistou até minha mãe, que passou a dobrar a metragem na compra da chita para o vestido de matuta e costurar o meu e o dela. Os padrões do tecido e modelos um pouco diferentes, para não parecermos par de jarros, éramos as matutas mais bem vestidas da festa. Nem assim tínhamos vez quando Laura estava no grupo.
- Foi no sinal, eu juro. Como tu dissesse pra eu fazer.
- Tu agora deu pra mentir também, foi?
- Ai, foi no sinal sim, uma dona me deu uma idéia que deu certo.
- Uma idéia? Que papo é esse? Ficasse contando nossos planos pros otários é? Mas só levando bolacha mesmo.
- Não, ai, foi nada disso. Ela pensou que eu tava recolhendo pra quadrilha de São João. Me deu facinho facinho, eu nem precisei dizer nada.
- Como é que é?
- Pois é. Foi assim. Eu aí comecei a passar o papo nos outros motoristas. Mesmo um bocado não dando nada, apurei isso aí.
- E não é que a esperta pensa, pessoal. Bom, muito bom. Com mais cem pratas dá pra comprar o ferro. Vai ser assim, então. Tu vai voltar pro sinal e conseguir o restante da grana.
Quem havia de dizer que meu namoro com Edu só durasse três meses? Ele era um arraso mas a gente não tinha nada a ver um com o outro. Logo depois que acabamos, sumiu no mundo. Diziam que o pai mandou ele morar em São Paulo com um tio, para estudar. E Laura nunca mais falou comigo.
- É perigoso. Imagina se aparece gente de quadrilha mesmo. É capaz até de me bater.
- E desde quando isso é problema? Pelo menos apanha pra levantar a grana. Muda de sinal, sei lá, te vira. Te dou três dias.
Ô semana cheia. Ainda bem que é sexta, recebi salário, vou fazer compras e mais tarde pego um cinema.
Lá vêm de novo os meninos malabaristas.
Que será que foi feito de Laura? Dizia que eu tinha roubado o namorado e um dia ia me arrepender. Bobagens de adolescentes. Lembro que teve uma menina. Eu achava lindo o nome que tinha lhe dado.
E esse sinal que não abre. Como era mesmo o nome da garota?
- Joana, pega a bolsa, pega a bolsa. Vai embora, dona, vaza, vaza. Se olhar pra trás leva chumbo.
- Era ela.
- Ela quem?
- A moça do sinal. Acho que me reconheceu.
- Não interessa, esperta. Ela nunca mais vai saber da gente. E dona Laura vai ganhar uma bolsa de madame, que eu só quero o recheio da carteira e o celular. Viu como tu não podia arranjar namorado melhor?
Vamo, vamo, Joana / findou-se o inferno / houve um bom inverno / há fartura no sertão. / Ai, Joana, traz pamonha, milho assado / vou matá de bucho inchado / quem num crê no meu sertão.
terça-feira, 2 de junho de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
JAGUADARTE

Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.
"Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!"
Ele arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvora Tamtam êle afinal
Parou, um dia, sonilundo.
E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!
Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.
"Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!"
Ele se ria jubileu.
Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.
Augusto de Campos [transcriação de Jabberwocky, de Lewis Caroll]
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Na lata

domingo, 17 de maio de 2009
Histórias Possíveis

Edição 42 da revista eletrônica Histórias Possíveis http://historiaspossiveis.wordpress.com/
“A razão cria cárceres mais escuros que a teologia. O inimigo do homem se chama Urizel (a Razão), o “deus dos sistemas”, o prisioneiro de si mesmo. A verdade não precede a razão e sim à percepção poética, isto é, da imaginação. O órgão natural do conhecimento não são os sentidos nem o raciocínio; ambos são limitados e na verdade contrários à nossa essência última, que é desejo infinito: “Menos do que tudo não pode satisfazer o homem”. O homem é imaginação e desejo”.[Otávio Paz, trad. de Sebastião Uchoa Leite]
Gerusa Leal, de vidro transparente – com prescrições eu irei te preencher para facilitar a tua vida dolorosa
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Resenha de Versilêncios no Homem Nerd


É só clicar na capa do livro após chegar no site que acessa a resenha. Se gosta de boas resenhas, principalmente de FC, passeie pelo site.
sábado, 9 de maio de 2009
sábado, 2 de maio de 2009
Reverso do nada
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Fotos do lançamento de Versilêncios na Saraiva
terça-feira, 28 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
eterno
mais que ruidosa mudez
mais que paleta de tintas
ressacada, quebradiça
que o pincel endurecido
no ateliê deserto
mais que partir outra vez
dói a terrível certeza
do retorno sempre certo
do livro Versilêncios
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Entrevista
terça-feira, 14 de abril de 2009
Foto no lançamento de Versilêncios
segunda-feira, 6 de abril de 2009
in preciso
também tantos deve e é preciso
inscritos em letreiros quando olhamos para dentro
que raramente pisamos descalços
nos gramados de nossos sonhos
é proibido também divagar
assumir o devaneio pelo devaneio
é preciso viver?
o que diabos há de preciso
em qualquer arte?
terça-feira, 24 de março de 2009
Entrevista

A poesia de Gerusa Leal
O Café colombo conversou com a contista e agora poetisa Gerusa Leal, que está lançando o premiado Versilêncios.
Ouça o áudio em http://www.cafecolombo.com.br/
quarta-feira, 11 de março de 2009
Lançamento
Edição da autora, patrocínio do Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do Recife. Via Livros (2137-0300). / Livraria Imperatriz Shopping Tacaruna / inter.g@terra.com.br R$ 20,00
Serviço:
Lançamento em 26 de março de 2009, das 19h às 21h
Recital do grupo Vozes Femininas
Local: Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco
Rua João Lira, s/nº, Parque 13 de Maio
Fones: 3181 2647 / 3221 3716
Sejam bem-vindos
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Ana-crônica
Treze anos, e não achava graça nos meninos.
Saquinhos de filó cheios de confete e serpentina, fantasias, ele aparece. Muito, muito, muito mais velho que ela. Hoje seria chamado de tio. Olhou e estendeu a mão. Foi.
No meio dos foliões, abraçados, a cabeça repousada no peito dele. Sentiu que lhe cheirava os cabelos. E a cada quarto de hora batia o ponto na mesa da tia.
No primeiro cheiro no pescoço, o frio na espinha. Ele sorriu.
Ninguém falava. Fim de baile. Sem despedida. Não com palavras.
Dia seguinte, lá estavam outra vez, ela, a tia, as primas.
Tédio.
De repente uma mão. Quente. Um olhar, um sorriso. O cheiro nos cabelos, no pescoço.
Terça-feira gorda. Mal pisava o chão. Era o último dia e mesmo assim nada era dito, não se conversava. Circulavam pelo salão, mãos dadas, abraçados.
Hora de ir embora. Nem despedida, muito menos telefones.
Carnaval. Até hoje traz pressentimento de um roçar de rosto, um calor, um cheiro no cabelo, no pescoço, um arrepio. E a nostalgia do desejo por um beijo na boca que nunca aconteceu.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Nós Pós realiza encontro na sorveteria Santo Doce

Acesse os textos lidos durante o evento, no blog do Nós Pós, na lista de links ao lado esquerdo desta página.
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Nota veiculada na edição de 25 de janeiro do informativo A voz do Escritor, da União Brasileira de Escritores, Seção Pernambuco.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Rabanadas
Naquele dia o cachorro perseguiu o menino latindo. Apanhou o primeiro objeto que a mão alcançou. Mas não precisou usar, o garoto havia subido na árvore onde acabara de pendurar a gambiarra, arrastando no tombo parte da fiação e fazendo várias lâmpadas coloridas espatifarem-se no chão.
- Droga. Vai cortar o pé, infeliz.
O moleque correu para dentro de casa.
A mulher está de pé junto ao fogão, os cabelos presos por um lenço. Parece que só enxerga as panelas. Prepara o almoço mas já cortou o pão para as rabanadas.
Escuta o arrastar dos chinelos e vê uma blusa desbotada se aproximando. Ela sempre sabia quando ele chegava e vinha encontrá-lo no portão. Levantou a cabeça e olhou ao redor como se não a tivesse visto.
- Já vou abrir.
Deu um passo para o lado parou e olhou a mulher. A blusa desbotada sobre a saia larga de estampado florido também já desmaiado. Não acreditava em violência. Não devia ter feito aquilo.
Caminhava devagar, o rosto sem expressão como se até as rugas houvessem esquecido a própria história. É de estatura mediana mas os ombros arqueados a fazem menor embora a firmeza do olhar afaste qualquer impressão de fragilidade. Ele tenta se lembrar de como ela era e só consegue ver uma jovem numa foto amarelada de casamento. Uma jovem que parece nunca ter sido ela.
- Venha, entre.
Despregou-se do chão e passou para dentro do jardim. O rosto dela ganhara um aspecto definitivo feito o das esculturas no museu onde ele ficara circulando enquanto esperava que a tarde passasse e não desse mais tempo de ir. A primeira vez fora pedir que lhe perdoasse e se o enxotasse mal o visse isso não o surpreenderia.
Limpava os pés no capacho com os olhos entre o chão e a guirlanda verde com um sino dourado pendurada na porta.
- Entre.
Sentou-se à mesa no canto da sala enquanto ela, arrastando os pés, sumiu no corredor que dava para a cozinha de onde vinha o cheiro doce. Serviu-lhe duas e ocupou a cadeira em frente, calada, as mãos cruzadas sobre a mesa, olhando ele cortar pedaços da rabanada e levá-los à boca.
Quando acabou, ela levantou-se, apanhou a travessa com o restante do doce, o prato vazio e lentamente sumiu outra vez no corredor. Ele imagina que assim como na sala, no restante da casa permaneça tudo igual, os mesmos móveis, nos mesmos lugares, os mesmos quadros pendurados nos mesmos pregos nas mesmas paredes, a mesma árvore no quintal.
Nunca foram de conversar muito mas se diziam o indispensável e passavam um pelo outro sem evitarem se esbarrar. Naquele dia ela queimou-se na panela de feijão que se esparramou por todo o chão da cozinha. Ele havia entrado atrás do menino com o chinelo na mão e quando ela se abaixou para limpar ergueu-a pelo braço xingando-a de estúpida e perguntando e agora o que nós vamos almoçar?
Ficaram as marcas na pele alva do braço e ele saiu batendo a porta. Sem coragem de contar que fazia um mês que passava os dias perambulando pelos parques, igrejas, museus, depois de conferir mais um anúncio de emprego onde não se interessavam por seus serviços.
- Beba a água. Está gelada.
Quando chegou ela não estava e só uma semana depois recebeu o bilhete onde dizia que estava trabalhando na casa de uma família e o menino ficava com ela. No mesmo bilhete e pelo mesmo portador escreveu que voltasse para a casa, não a incomodaria.
Secou os lábios com as costas das mãos. Quando ela voltou da cozinha já estava de pé ao lado da porta. Caminhou atrás dela que fechou o portão e quando já voltava para dentro ele girou sobre os calcanhares. Ela parou.
- E o menino?
- O menino está bem.
Entrou na casa e ele atravessou a rua para apanhar o ônibus.
Marilyn Lisa
nos cachos repolhudos dos teus cabelos
nos teus lábios monroe
no teu sorriso lisa
alguma coisa há de espectral
no tom tofu da tua pele
no rosa macerado do teu rosto
no sépia desbotado em tuas vestes
alguma coisa há de surreal
nos traços comestíveis do teu rosto
e esse teu olhar de modo oposto
tem algo de ser sobrenatural
sábado, 17 de janeiro de 2009
A última refeição
Tateou alguma coisa para matar a fome. O ventre aberto do pássaro oferecia-lhe o manjar das vísceras expostas e ainda mornas, com que se regalou.
Por instinto, contorceu-se, virando a cabeça para a porta. Alguma razão que não conseguia desvendar levava-o a reviver a última refeição. Ouviu Gregório gritar alguma coisa e seu coração se contraiu. Mas Inocêncio replicou com serenidade. A voz suave devolveu-o ao relativo conforto do devaneio com o último jantar.
Pendia, de cabeça para baixo, seguro, atado pelos membros inferiores. A vertigem da rápida descida, misturada à dor aguda da queimadura. Já não era uma sensação nova. Não o apavorava mais tanto. Mesmo assim, sentiu-se miserável e infeliz como nunca. Se é que se poderia chamar de sentimento ao desfalecer que lhe percorria o corpo e ameaçava engolfar-lhe o cérebro.
O contato do instrumento frio trouxe-o de volta. Era tudo confuso. Agora explorava o baú que um dia encontrara aberto no gabinete. O brilho da lâmpada no teto refletia-se nos artefatos de metal e isso o fascinava. Uma sombra o alertou de que não estava mais só. Sentiu o toque da mão, ouviu o grito agudo e retesou-se pronto para fugir. Mas a gargalhada grave e cristalina, já tão familiar, o acalmou. Enquanto os passos, o choro e a risada se afastavam, aproveitou para escapar da armadilha.
Depois da refeição, gostava de se esgueirar pelos móveis. Lembrou-se daquele frasco em cima do aparador em que numa madrugada esbarrara enquanto fazia seu passeio exploratório. E do susto quando mais rápido do que imaginava a lâmpada se acendeu, flagrando-o desprotegido. Estudou cuidadosamente o ambiente em volta e mergulhou na gaveta das fotos.
Então novamente o calor do fogo. Havia compreendido que de nada adiantava, mas talvez por puro reflexo estorcia-se, guinchava. Grudava-lhe na pele o líquido morno e gosmento. Torturava-o a ardência nos pontos onde perdera os pelos.
O trecho roído na borda da foto que emoldurava o rosto pálido da moça não lhe afetava a beleza. Degustava-a despreocupada e lentamente. Cabelos negros presos em coque, ornados pela grinalda de flores miúdas, os olhos castanhos, grandes, profundos e tristes, foi a última imagem que seu cérebro reteve antes de tudo escurecer.
Já não se movia mais, mas ainda estava ali. O suficiente para sofrer, em algum lugar da já quase inexistente consciência, a dor mais lancinante. Era lenta e se prolongava, parecia não ter fim. Depois de algum tempo, chegava, aos ouvidos, apenas, o som de batidas, num bombo, gigantesco, e distante, o líquido morno, pingando, dentro do recipiente, sob sua cabeça.
Acabara-se a urgência. E a sensação de perigo. Já se esquecera do mundo quando sentiu outra vez o fogo lambendo-lhe o corpo. Não havia mais dor. Terminara a agonia. As imagens iam e vinham, em flashes, e foram se dissipando, virando sombra de sombra, até ficarem opacas e cinzas. Feito o pelo chamuscado.
Texto publicado no caderno especial em homenagem a Machado de Assis, na coletânea Contos de Oficina 2008, organizada por Raimundo Carrero, lançada em 08 de novembro de 2008 na Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas – ano IV.
ex-finge

verás que ainda há parte do humano
que fui quando assim fingia ser
tateia com vagar todos os flancos
desse ser tão incomum igual a ti
de quatro talvez me descortines
de quatro animais encontras partes
à minha humanidade amalgamada
cabeça e seios de mulher
corpo de touro (ou de cão se assim preferes)
garras de leão asas de ave
e essa imensa cauda de dragão
não temas, amado, inda sou eu
a mesma que desconhecendo, amastes
e se duvidas de mim, olha no espelho
verás que, enfim, me decifrastes
Sonhando com cavaleiros andantes
Pois bem, Leandro, vou te contar outra vez como foi que se passou. Mas espera um pouco, Marta, sei que há muito te conheço mas sempre esqueço quem és. Agora já não importa, Leandro, quem é que eu sou. Apenas ouve a história que há tanto tempo te encanta. O que eu vou te contar é mesmo a pura verdade, embora tudo que eu saiba é só por ouvir falar.
Dizem que o rapaz, naquela manhã, pulou da cama bem cedo, vestiu roupa de viagem, jogou nas costas a mochila, calçou os tênis novos e pôs a mala na mão; seu sorriso era um sol. Despediu-se então dos pais entrou no carro e partiu. Falam que estava noivo de moça em outra cidade e nesse dia viajava pra com ela se encontrar.
A moça o esperava também ansiosa e alegre, de casamento marcado, tudo pronto, era só ele chegar.
Mas numa curva da estrada, numa errada ultrapassagem o tal carro derrapou girou na pista três vezes capotou girou mais uma e desceu pelo barranco.
De madrugada, geava muito na serra por isso só no outro dia é que foi localizado, bem sentado ao volante, o cinto de segurança preso ainda no lugar. Falam que os motoristas do caminhão que o acharam, e os caras da perícia não conseguiam explicar as marcas de pneus que batiam com os do carro também no sentido oposto do fatídico acidente, subindo pelo barranco arrancando terra e grama e na pista prosseguindo na direção em que vinha.
Marta, mas quem será que seria aquela moça a quem veio procurar? Será que ela ainda vive? Será que ainda o espera? Será que algum dia os dois irão se encontrar?
Não sei, Leandro, só lembro de estar há tempos na janela do quarto do apartamento dos meus pais no oitavo andar quando o velho entrou bem sério, me abraçou, baixou os olhos, saiu sem nada dizer. Do que eu me lembro depois, só do vento nos cabelos, da sensação que voava e de estar aqui contigo em noites de lua nova te contando um vez mais essa porra dessa história.