sábado, 17 de janeiro de 2009

Sonhando com cavaleiros andantes

Marta, me conta outra vez aquela história do carro que assombra as ruas da cidade em noites de lua nova, saindo do edifício-garagem abandonado, assustando os casais que namoram nos pátios de estacionamento, e dentro das casas e apartamentos, sobressalta as mulheres com o ronco do motor e as arrancadas que ecoam na solidão das madrugadas, acelera sobre a insônia das crianças e dos idosos, com o derrapar dos pneus no asfalto silencioso. Me conta, Marta, como a alma do motorista do homem se separou.

Pois bem, Leandro, vou te contar outra vez como foi que se passou. Mas espera um pouco, Marta, sei que há muito te conheço mas sempre esqueço quem és. Agora já não importa, Leandro, quem é que eu sou. Apenas ouve a história que há tanto tempo te encanta. O que eu vou te contar é mesmo a pura verdade, embora tudo que eu saiba é só por ouvir falar.

Dizem que o rapaz, naquela manhã, pulou da cama bem cedo, vestiu roupa de viagem, jogou nas costas a mochila, calçou os tênis novos e pôs a mala na mão; seu sorriso era um sol. Despediu-se então dos pais entrou no carro e partiu. Falam que estava noivo de moça em outra cidade e nesse dia viajava pra com ela se encontrar.

A moça o esperava também ansiosa e alegre, de casamento marcado, tudo pronto, era só ele chegar.

Mas numa curva da estrada, numa errada ultrapassagem o tal carro derrapou girou na pista três vezes capotou girou mais uma e desceu pelo barranco.

De madrugada, geava muito na serra por isso só no outro dia é que foi localizado, bem sentado ao volante, o cinto de segurança preso ainda no lugar. Falam que os motoristas do caminhão que o acharam, e os caras da perícia não conseguiam explicar as marcas de pneus que batiam com os do carro também no sentido oposto do fatídico acidente, subindo pelo barranco arrancando terra e grama e na pista prosseguindo na direção em que vinha.

Marta, mas quem será que seria aquela moça a quem veio procurar? Será que ela ainda vive? Será que ainda o espera? Será que algum dia os dois irão se encontrar?

Não sei, Leandro, só lembro de estar há tempos na janela do quarto do apartamento dos meus pais no oitavo andar quando o velho entrou bem sério, me abraçou, baixou os olhos, saiu sem nada dizer. Do que eu me lembro depois, só do vento nos cabelos, da sensação que voava e de estar aqui contigo em noites de lua nova te contando um vez mais essa porra dessa história.

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